Aos 74 anos, Seu Chico foi transferido nesta quinta (31) para instituição de longa permanência em Sobradinho O que começou como um atendimen...
Aos 74 anos, Seu Chico foi transferido nesta quinta (31) para instituição de longa permanência em Sobradinho
O que começou como um atendimento de emergência se transformou em uma história de afeto e recomeço. Francisco Beserra da Silva, de 74 anos, chegou ao Hospital Cidade do Sol (HSol), unidade administrada pelo Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF), em abril de 2024, com um diagnóstico grave de dengue, desnutrição severa e em situação de vulnerabilidade social.
Um ano e três meses depois, Francisco deixa o hospital recuperado e cercado por profissionais que se tornaram sua segunda família. Nesta quinta-feira (31), ele foi transferido para o Lar dos Velhinhos Bezerra de Menezes, em Sobradinho, onde continuará recebendo cuidados, agora com mais saúde e dignidade.
Um longo caminho até a recuperação
Quando chegou ao hospital, Francisco não andava, não falava e rejeitava qualquer tipo de cuidado. A fisioterapeuta Monik Aguiar lembra que, no início, ele resistia ao tratamento. “Não aceitava terapia, não gostava de ser tocado e reagia com agressividade. Mas, aos poucos, conquistamos sua confiança. Não sei dizer quando isso mudou exatamente, mas quando ele nos permitiu cuidar, criou-se um elo", conta.
Além das sessões de fisioterapia, Monik criou com ele um ritual diário: a oração matinal. “Costumo dizer que o Hospital do Sol salvou a vida do Seu Chico, e ele salvou as nossas. Rezo com ele todas as manhãs. Vê-lo bem faz parte da minha motivação diária”, diz.
A recuperação física veio acompanhada da reabilitação nutricional. Francisco chegou pesando apenas 36,4 kg e com um quadro grave de desnutrição. Com dieta personalizada e acompanhamento contínuo, ganhou 11,8 kg, um avanço expressivo que transformou não apenas sua aparência, mas também sua disposição.
“A melhora no estado nutricional foi essencial para devolver a autonomia e a interação social”, explica a nutricionista Luthiana da Paixão Santos. “O ganho de peso, aliado à fisioterapia, trouxe mais do que massa corporal. Trouxe funcionalidade e vontade de viver. Hoje ele realiza atividades, interage e até participa de momentos de lazer com a equipe e outros pacientes.”
Mais que assistência: acolhimento
A jornada de Francisco começou ainda na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia, para onde foi levado pelo Corpo de Bombeiros do DF (CBMDF). Lá, permaneceu internado até ser transferido para o HSol. Desde o início, o serviço social trabalhou para reconstruir sua história e garantir um lar definitivo.
“Ele estava em situação de rua, sem vínculos familiares sólidos, mas conseguimos resgatar parte de sua trajetória”, relata a assistente social Mariana Melgaço. Segundo ela, os relatos contam que Francisco sempre gostou da liberdade. “Desde jovem, no Ceará, ele vivia andando por aí e até dormia em árvores. Tentaram alugar um quarto para ele, mas não permanecia nem dois dias. Preferia a rua.”
Mesmo sem uma família tradicional, Seu Chico encontrou no hospital uma rede de cuidado e afeto. Para Mariana, sua história é prova do poder do trabalho em equipe. “Cada profissional contribuiu um pouco, e o resultado está aí: ele tem conforto, dignidade e qualidade de vida. Ver essa virada é extremamente gratificante, inclusive do ponto de vista profissional”, afirma.
Uma despedida com visita marcada
Durante o período de internação, Francisco conquistou até quem atua nos bastidores. É o caso do maqueiro Joabson Araújo, que o acompanhou desde os primeiros dias: “Levamos ele até o circo, que estava montado perto do hospital. Foi um dos dias mais felizes da vida dele. Guardo as fotos com carinho”.
Para a equipe, a partida não é um adeus, e sim o início de um novo capítulo. “Cuidar do Seu Chico foi um presente. Cada passo que ele deu, cada sorriso, cada ‘sim’ que nos disse me formou como profissional e como pessoa. No fim das contas, fomos nós que ganhamos”, resume Monik Aguiar.
*Com informações do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF)
Da redação do Portal de Notícias
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