Local recebe pessoas em situação de rua para pernoite, com oferta de banho, refeições e transporte; espaço também é o único em funcionamento...
Local recebe pessoas em situação de rua para pernoite, com oferta de banho, refeições e transporte; espaço também é o único em funcionamento no país a acolher animais de estimação
Vivendo em situação de rua há quatro anos, Lúcia — cujo sobrenome será preservado — nem acreditou quando conheceu o hotel social: “Pensei que estava sonhando.” A mulher é uma das acolhidas no espaço, pioneiro no Distrito Federal. Inaugurado há uma semana, na quarta-feira (23), o primeiro equipamento permanente destinado ao pernoite de pessoas em situação de vulnerabilidade na capital federal superou, em oito dias, a marca de mil atendimentos.
“[Estou vindo] desde o dia que abriu. É uma coisa muito boa, porque, nessa época fria, a gente passa muito mal na rua. Eu mesmo estou com problema do pulmão devido à friagem e aqui foi uma bênção. É maravilhoso. A gente entra, toma banho, janta e vai para a nossa ‘caminha’. Só de ter uma cama para deitar, ter um lençolzinho para se cobrir, não tem coisa melhor na vida”, completou Lúcia.
Localizado na região do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), o hotel social oferece 200 vagas para pernoite e é o único em atividade no país a receber também animais de estimação. O espaço fica aberto das 19h às 8h e os visitantes têm, além do local para dormir, banho quente e duas refeições — jantar e café da manhã. Também são disponibilizados ônibus para quem deseja chegar ao local, saindo do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), na Asa Sul.
A média foi de 130 atendimentos diários, o que representa 65% da capacidade do local. “O hotel social é resultado do esforço contínuo para avançar nas políticas sociais do DF. Essa primeira semana de funcionamento já mostra que estamos no caminho certo e foi fundamental para ajustar processos, ouvir as equipes envolvidas e garantir que a política pública chegue, de fato, a quem mais precisa”, destacou o secretário-chefe da Casa Civil do DF, Gustavo Rocha, coordenador da Política Distrital para a População em Situação de Rua.
"O pernoite é apenas a porta de entrada. A partir da coordenação da Casa Civil, estamos articulando uma política pública integrada, que acolhe e oferece caminhos reais para a reconstrução da trajetória dessas pessoas fora das ruas"
Gustavo Rocha, secretário-chefe da Casa Civil
“O pernoite é apenas a porta de entrada. A partir da coordenação da Casa Civil, estamos articulando uma política pública integrada, que acolhe e oferece caminhos reais para a reconstrução da trajetória dessas pessoas fora das ruas”, acrescentou Gustavo Rocha.
O investimento anual por parte do Governo do Distrito Federal (GDF) é de R$ 7,4 milhões, com contrato de cinco anos, prorrogável por igual período. A administração está a cargo de uma Organização da Sociedade Civil (OSC). A estrutura do prédio já estava pronta, mas o espaço passou por uma reforma para atender melhor ao público que procura o serviço.
“Este foi um passo gigante que este GDF deu no sentido de enxergar de perto a complexidade das pessoas em situação de rua. Não é somente um local para dormir durante o ano inteiro no Hotel Social, com banho, alimentação e espaço para os seus animais de estimação, mas é olhá-las nos olhos, chamá-las pelos nomes, incluir em atividades, oficinas e outras políticas públicas. São cerca de 130 pessoas por dia que estão tendo proteção social e mais dignidade para poder, de fato, passar por uma transformação e mudar de vida”, reforçou a secretária de Desenvolvimento Social, Ana Paula Marra.
Esse investimento é reconhecido pelos visitantes. Como o paranaense Oscar, que chegou ao DF há dois meses: “Já passei por vários locais, em vários estados. Agora, como este aqui, eu nunca tinha presenciado e conhecido. Já estou aqui há cinco dias e, para mim, está sendo ótimo, porque eu janto, durmo à noite, de manhã cedo vou para o Centro Pop e volto aqui no horário certo para poder entrar. É bom, está tudo muito disciplinado, bem organizado, com uma cama para cada um. Quem não queria estar aqui agora?”.
Acolhimento
O Distrito Federal foi a primeira unidade da Federação a apresentar um plano de política pública após a suspensão das ações de abordagem à população de rua pelo Supremo Tribunal Federal. Em 27 de maio de 2024, o GDF tornou oficial o Plano de Ação para a Efetivação da Política Distrital para a População em Situação de Rua, sob coordenação do secretário-chefe da Casa Civil, Gustavo Rocha. Desde então, há ações semanais de acolhimento em diversos pontos do DF.
No início deste mês, a vice-governadora Celina Leão, então em exercício, assinou decreto que criou o programa Acolhe DF, que propõe uma busca ativa e oferta de tratamento a pessoas em situação de rua com vício em drogas — tanto as ilícitas quanto álcool e tabaco —, criando uma linha de atendimento a essas pessoas e, consequentemente, aprimorando as ações já existentes do GDF voltadas a esse público.
Além disso, desde 2022, o governo promove, em períodos de baixas temperaturas, a chamada Ação contra o Frio, com oferta de espaços públicos para pernoite de pessoas em situação de rua. Apenas neste ano, a unidade aberta na Asa Sul registrou 6,6 mil atendimentos. No local, também foram oferecidos casacos e cobertores arrecadados por meio da campanha Agasalho Solidário, da Chefia-Executiva de Políticas Sociais.
Da redação do Portal de Notícias
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