Michele Horovitz, da Agência Saúde DF | Edição: Fabyanne Nabofarzan
Doença rara, mas grave, o botulismo pode estar associado a alimentos mal conservados — e representa um risco ainda maior para crianças pequenas; DF registrou um caso no mês passado
Produtos como conservas artesanais, pastas caseiras e temperos vendidos em feiras ou mercados populares exigem cuidado. Quando mal preparados ou armazenados de forma inadequada, esses alimentos podem se tornar um ambiente propício para a bactéria Clostridium botulinum, que produz uma toxina capaz de provocar paralisia muscular.
No último mês, foi confirmado um caso da doença no Distrito Federal após consumo de conserva de pimenta. A ocorrência foi notificada e as unidades de saúde do DF foram alertadas para observarem o possível surgimento de outros casos. O paciente já recebeu alta hospitalar e segue em recuperação domiciliar, com acompanhamento especializado.
A médica gastrohepatologista Daniela Carvalho explica como a enfermidade afeta o organismo. “A toxina bloqueia a comunicação entre os nervos e os músculos, o que pode causar sintomas como visão dupla, pálpebras caídas e até dificuldade para respirar. O quadro é grave, mas tratável — desde que o diagnóstico seja rápido", afirma.

Em bebês, os sinais podem ser mais sutis: intestino preso, fraqueza muscular, dificuldade para sugar e um choro mais fraco que o habitual. Por isso, é fundamental que pais e responsáveis fiquem atentos a qualquer mudança no comportamento da criança, especialmente nos primeiros meses de vida.
O consumo de mel por crianças menores de um ano, por exemplo, deve ser evitado. Apesar de natural, o mel pode conter esporos da bactéria, e o sistema digestivo dos bebês ainda não é capaz de combatê-los.
Produtos artesanais
Quem costuma comprar alimentos prontos ou artesanais em feiras e mercados deve observar o aspecto das embalagens. Tampas enferrujadas, estufadas ou com vazamentos são sinais de alerta.
O cheiro e a aparência são importantes e qualquer alteração ou presença de bolhas indica que o produto não está seguro.
Outro ponto a se observar é a refrigeração dos alimentos. Conservas e pastas precisam ficar na geladeira e têm um período de consumo adequado após aberto. Produtos que permanecem por longos períodos sem refrigeração oferecem risco.
Preparações caseiras também exigem atenção
No preparo de papinhas, molhos ou conservas em casa, é importante adotar práticas seguras, como lavar bem os alimentos, usando escova e água corrente; esterilizar os frascos e tampas, fervendo por pelo menos 15 minutos; armazenar em potes limpos, com tampa nova e bem vedada e refrigerar.
"Nunca deixe alimentos prontos em temperatura ambiente por mais de duas horas", alerta Daniela Carvalho. É importante lembrar que não se deve reutilizar tampas de conservas, pois compromete a vedação e pode facilitar a entrada de micro-organismos.
Ao menor sinal de sintomas compatíveis com botulismo, procure atendimento médico imediatamente. “A pessoa permanece consciente, mesmo com o corpo paralisando, o que é característico da doença”, destaca a médica.
Fiscalização
A Vigilância Epidemiológica do DF atua de forma imediata em casos suspeitos ou confirmados de botulismo, por se tratar de uma doença grave e de notificação compulsória, como explica a diretora da Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal, Juliane Malta.
"Assim que um caso é identificado, são realizadas ações para confirmar o diagnóstico, investigar a provável fonte de contaminação e adotar medidas de controle para evitar novos casos. Isso inclui coleta de informações clínicas, investigação epidemiológica detalhada, envio de amostras para análise laboratorial e orientação às equipes de saúde e à população sobre os cuidados necessários", explica.
Também há articulação com a Vigilância Sanitária e outros setores para identificar e retirar produtos contaminados ou inseguros, quando for o caso. O objetivo é detectar precocemente, tratar adequadamente e prevenir a ocorrência de surtos.

Da redação do Portal de Notícias