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No contexto do Partido Liberal (PL), ainda que o discurso público possa apresentar variações, a diretriz interna é bem definida e emanada diretamente dos níveis mais altos de liderança. Detentor da maior parcela dos recursos provenientes do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, Valdemar da Costa Neto não apoia, sequer de maneira remota, a possibilidade de Bia Kicis lançar uma candidatura ao Senado pelo Distrito Federal. Sua avaliação segue critérios pragmáticos, desprovidos de qualquer idealismo ou romantismo político.
Em uma reunião recente realizada em Brasília, a orientação foi clara e direta: Bia Kicis deve permanecer na Câmara dos Deputados e desempenhar o papel estratégico determinado pela direção nacional — auxiliar na manutenção da força da bancada federal do PL no Distrito Federal, ou, no mínimo, mitigar as perdas nesse cenário. Foi assim em 2022, quando sua expressiva votação contribuiu significativamente para alavancar votos; e é exatamente esse desempenho que Valdemar espera que se perpetue.
Para a cúpula do partido, não há dúvida sobre quem deve ocupar a candidatura ao Senado. Michelle Bolsonaro é o nome definido. Para Valdemar, o tema foi resolvido antes mesmo de ser aberto à discussão.
Essa decisão não se apoia em aspectos de afinidade ideológica ou preferências pessoais. A base de sustentação é essencialmente financeira. O PL entrou no ciclo eleitoral com um caixa consolidado: até novembro de 2022, o partido acumulava cerca de R$ 190 milhões de repasses do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Graças à eleição de 99 deputados, representando aproximadamente um quinto da Câmara dos Deputados, o partido garantiu a maior parcela do Fundo Eleitoral — cerca de R$ 886 milhões de um total próximo de R$ 5 bilhões. Cada vaga conquistada na Câmara significa, em termos práticos, aproximadamente R$ 9 milhões em recursos adicionais. Em uma lógica simples, quanto maior a bancada, maior o financiamento.
Todavia, tal equilíbrio encontra-se ameaçado. Dada a conjuntura política adversa e os impactos decorrentes da prisão de Jair Bolsonaro, há riscos substanciais de o partido sofrer uma redução significativa em sua representatividade nas eleições de 2026. Adicionalmente, a janela partidária — ferramenta que viabiliza trocas partidárias sem perda de mandato — tende a agravar o esvaziamento da legenda.
É nesse contexto que surgem movimentos como o do deputado Alberto Fraga, cuja migração para o PSD, sob liderança de José Roberto Arruda, parece iminente. Sem a participação de Bia Kicis em cargos proporcionais, a equação que sustenta o coeficiente eleitoral torna-se inadequada. Isoladamente, Fraga não possui força eleitoral suficiente para garantir nem mesmo sua própria continuidade na política.
Durante o mesmo encontro com Valdemar, o senador Izalci Lucas também manifestou insatisfação. Ele condicionou sua permanência no PL à disponibilização do número 2222 — atualmente associado à imagem de Bia Kicis — para Thiago Manzone. Caso essa demanda não seja atendida, ele sinalizou que buscará outros rumos políticos.
O PL que emergiu como potência nas eleições de 2022 já não ostenta a mesma coesão interna. Desde o início da legislatura, a sigla tem enfrentado uma progressiva perda de densidade política devido a migrações partidárias, expulsões, cassações e rearranjos eleitorais. Saídas notáveis incluem figuras como Ricardo Salles, agora filiado ao Novo, além de outras transferências para partidos como o PP e os Republicanos. Incidentes recentes que resultaram nos afastamentos de Eduardo Bolsonaro e Alexandre Ramagem intensificaram ainda mais as dificuldades do partido.
A prisão de Jair Bolsonaro atuou como catalisador nesse processo de desintegração interna. O ambicioso projeto de elevar a bancada do partido para além de 100 deputados em 2026 está profundamente comprometido.
Enquanto Valdemar da Costa Neto busca desesperadamente preservar o que ainda resta e conter novas deserções internas, Bia Kicis persiste em contrariar os interesses estratégicos traçados pela liderança do partido. Ao desafiar abertamente a direção nacional, ela corre o risco de relegar o PL no Distrito Federal ao papel de figura secundária — um revés crítico em um momento em que é fundamental preservar a unidade e disciplina dentro das fileiras. Afinal, no PL, predomina uma hierarquia clara: quem detém poder toma as rédeas; os demais apenas seguem as ordens estabelecidas.
Da redação do Portal de Notícias Lei e Política, com informações do Portal Radar DF Notícias
